Galeão Trindade
Ando aqui há tempo com ela fisgada para falar de duas cousas mas outros afazeres (calhando é falta de arte) me têm tolhido o intento. Uma é a Nossa Senhora da Rocha e o vale do Jamor e a outra é Goa. Deixando agora o primeiro, pego ao de leve na sede do nosso Estado da Índia.
Fez há dias 45 anos da invasão de Goa Damão e Diu e talvez por isso tenham dado há pedaço um documentário sobre ele no canal da R.T.P. Memória. Da bravura dos nossos em tão agrestes e ingratas circunstâncias, estou convicto, não se envergonharia Albuquerque. Mas confesso que não estou nada à vontade no tema. Afortunadamente há gente quem sabe e nos lembra o que se passou e tem passado...
Há quase 500 anos assentou o grande Afonso de Albuquerque de acometer a cidade de Goa. Conquistando-a uma primeira vez viu-se obrigado a retirar. Achando-se mal julgado por deixá-la acometeu-a segunda vez e tomou-a aos Turcos pelas armas: um dos seus capitães, «Manuel de Lacerda, que andava [ferido] com uma setada polo rosto, em entrando pela porta encontrou-se com hum Turco de cavallo, e matou-o, e subio-se no cavallo, e foi seguindo a vitoria [...] Quando o elle vio [Afonso de Albuquerque] com as armas todas tintas de sangue, abraçou-o, e disse-lhe: Senhor Manuel de Lacerda, confesso-vos que vos hei grande inveja, e assim vo-la houvera o grande Alexandre se aqui estivera [...] » (Comentários do Grande Afonso de Albuquerque, parte III, cap. III).
Foi no dia de Santa Catarina de 1510. Uma das velas da frota da conquista de Goa é este magnífico galeão Trindade. Logo depois seguiu a frota para Malaca...
Telmo Gomes, Galeão Trindade, in Navios Portugueses do Oriente: Século XVI, Inapa, 1999.