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Bic Laranja

Bic Laranja

07
Nov19

Sou deste tempo

A56458
Avenida de Fontes com a Martens Ferrão, Lisboa, 1967.
Augusto de Jesus Fernandes, in arquivo fotográfico da C.M.L.


 Melhor! A paisagem mudada, o orgulho do moderno prédio já não de rendimento, mas de sétimo andar com elevador (o luxo da burguesia média-alta do tempo da mini saia) — senão a câmara municipal nem lá tinha mandado o fotógrafo documentar a formidável pós-modernidade. Em 1969 seriam os 20 andares do Imaviz e em 71, salvo erro, os 25 do Sheraton, um pedaço de avenida (e não só) mais acima — 5 estrelas!…
 E a ortografia despida, como a de Queirós do Eça nas edições dos Livros do Brasil. Aquelas que na melhor hipótese eram encadernadas em vermelho e dourado.
 Sou deste tempo. A rua onde nasci ver-se-ia ao fundo, não fora (fôra ou fora?!…) a furgoneta pão-de-forma (fôrma ou forma?!…) a passar.

06
Nov19

Prédio de rendimento

Avenida de Fontes com a Martens Ferrão, Lisboa (P. Guedes, 190…)
Avenida de Fontes com a Martens Ferrão, Lisboa, post 1902.
Paulo Guedes, in archivo photographico da C.M.L.


 E bem! Não há muito a dizer. É o pittoresco das avenidas novas por 1900. O «maldito» predio de rendimento, que os contemporaneos condemnavam por desfear os lotes que se queriam para chalets á franceza. Ou á suissa. Tres andares! Uma brutalidade de volume (no séc. XXI diz-se pomposamente «volumetria», quasi parece scientifico), contrastante da bucolica rusticidade arrabaldina dos lugares por se onde espraiaram as taes avenidas. Novas. — Vede o casario além! Do fundo do taipal a São Sebastião da Pedreira. A igreja lá se vê, cortando ainda o horisonte com sua tôrre sineira. D'antes as terras, e até os lugares, eram assim: nada acima do campanario atalhando horisontes.
 Aquella casa branca em segundo plano é no leito da rua onde nasci. Claro que nem havia rua e eu só nasci mais tarde. Já a paisagem mudara… Mas a orthographia aqui é seguro ser como a de Eça de Queiroz na 1.ª edição d' Os Maias.