Housing First — Lisboa quer dar têt' a todos sem abrigo
Housing First não é só um título em bom português duma coisa qualquer. Nem é uma coisa qualquer. É todo um programa, concebido por finlandeses para de acabar com os vagabundos, vadios, indigentes, mendigos, pedintes, pobres, dementes ao deus-dará ou simples desvalidos desabrigados espalhados pelas ruas de Helsínquia.
Ah! E baptizado por eles, finlandeses, com um belo nome amaricano! (Como parecem portugueses!)
Vê-se a coisa agora por cá.
Por conseguinte, não só passámos — nós, os da pátria de Camões — do bárbaro homeless ao anglicismo sem-abrigo — uma espécie de omelesse sem ovos à portuguesa, que é a clássica luso-aculturação ao amaricano com arrimo lusitanizante. — Não só passámos disto que disse, como parámos por estas bandas completamente de querer pensar. Com boa vontade, se não desligámos já definitivamente o cérebro, podemos entender que dar um cunho nosso à Hous… coisa é decalcarmos (=copy/paste) todo o programa dos finlandeses e escarrapachá-lo solenemente na folha de couve Oficial do Governo como Resolução do Conselho de Ministros n.º 50-A/2018, com o pomposo sumário: Aprova o sentido estratégico, objectivos e instrumentos de actuação para uma Nova Geração de Políticas de Habitação (com ortografia assaz mutilada, como calculais). Lá pelo meio do despacho ou decreto ou o raio que é uma Resolução do Conselho de Ministros, pode ler ver-se Housing uma data de vezes. Chic a valer!
Assim posta a coisa, mais parece que foi um Governo do dr. Ant.º Costa que engendrou o programa, o título, e tudo, hem! — Ora adeus ó finlandeses!… Adeus ó sem abrigos!
Nota final. Pode parecer bem, mal, ou estúpido descaso, o Correio da Manha (isso mesmo) grafar tecto a par de projêto, mas não se engane o benévolo leitor. O jornalista redigiu mesmo o título cacográfico Lisboa quer dar teto a todos os sem-abrigo. Mas ao depois, o director lá, o Otávio (isso mesmo), olhou para aquilo, leu mentalmente em voz alta e olha!… Fez ao Acordo o Ortográfico que adutou lá no jornal o mesmo que outro também fez ao segredo de justiça.
(Devo a notícia do Correio coiso e o mote do barbaresco Housing Fresta, ou isso, ao meu prezado amigo D.C.)